Silma Mendes Berti*
Nascituro é o ser concebido, durante o tempo em que se encontra no seio materno que o acolhe e o protege.
Impossível falar de Nascituro sem invocar Maria, a mulher mais louvada.
É no relato da Anunciação, a página mais emocionante da Bíblia, que Lucas apresenta a Virgem no cenário da vida humana. E o faz com matizes literários e teológicos.
O anúncio a Maria
No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
Entrando onde ela estava, disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1, 26-29). Ao ouvir o mais surpreendente anúncio-vocação dos lábios de um mensageiro divino, Maria reage, e, dialogando, serenamente, perturba-se, não com a presença do anjo, mas com o sentido das palavras dele. Procura “entender o motivo pelo qual fora agraciada por Deus, a ponto de receber dele o nome cheio de graça.” O anjo, porém, acrescentou: “Não temas, Maria! Encontraste a graça, junto de Deus. Eis que conceberás em teu seio, e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele será reinará na casa de Jacó, para sempre e o seu reinado não terá fim.” (Lc 1, 30-33)
“Não temas!” expressão tranquilizadora que figura e ressoa por toda a história do Evangelho. O anjo Gabriel a pronunciou, dirigindo-se a Zacarias, antes de nascimento de João Batista. (Lc 1, 13) O mesmo anjo Gabriel repetiu a Maria, antes do nascimento de Jesus. (Lc 1,30) O anjo diz isto às mulheres que foram ao túmulo de Jesus, (Mt 28,5). E o próprio Jesus também a pronunciou quando apareceu aos discípulos, (Mt 28,10) para anunciar o Deus do Amor, da Alegria e da Paz.
Na resposta do Anjo a Maria, insere-se o anuncio da Encarnação. Maria não foge ao chamado, mas apresenta ao Anjo um obstáculo: “como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum? (Lc 1, 34). O anjo lhe respondeu:” O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com sua sombra, por isso o Santo que vai nascer, será chamado Filho de Deus (Lc 1, 35).
Maria não recebe um Filho concebido com a participação natural do homem, mas mediante uma intervenção especial de Deus. Um filho que recebe dela a natureza humana, permitindo o Filho de Deus humanizar-se: “E o verbo se fez carne.” (Jo 1,14). Maria, ponto de união entre o Céu a terra. Nem por um instante a Virgem duvidou que Deus pudesse fazer o que o Anjo lhe anunciara. E não pediu prova alguma. Mas o Anjo lhe ofereceu um sinal: “Também Isabel, sua parenta, concebeu um filho na velhice, e este é o sexto mês, para aquela que chamaram de estéril. Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1, 36,37)
O Sim de Maria
A resposta de Maria foi uma esplêndida profissão de fé: “Eu sou a serva do Senhor: faça-se em mim segundo a sua palavra!” E o anjo a deixou (Lc 1, 38).
Primeira Comunhão de Maria
Maria recebe em suas entranhas o Verbo feito carne. Eis o Nascituro de Maria! Ali ganha morada o Corpo de Cristo. Primeira Comunhão da Virgem Maria: Primeira Comunhão do mundo. Primeira vez que uma criatura humana hospeda dentro de si, e desta vez sem o véu das espécies sacramentais, o Corpo de Cristo, segundo afirma o Salvador M. Iglésias: O Evangelho de Maria. São Paulo: Quadrante, 1991, p. 82.
Apenas Maria, sobre a terra, soube o momento em que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14). Inexiste, portanto, registro de elemento natural ou artificial. Com efeito, ser Mãe de Deus é o centro de tudo. Para ser Mãe, e, por ser Mãe, tudo acontece. Para ser o habitáculo do Altíssimo é Maria concebida sem pecado. Daí dizer-se que ela concebeu antes na mente do que no corpo, um dar de si, de sua própria substância para a vida de seu Divino Filho, o Redentor do mundo. A palavra de Deus reduziu-se ao silêncio completo, durante nove meses no seio virginal de Maria.
Na maternidade, uma particular riqueza do encontro do FILHO-MÃE. Nenhum filho escolhe sua mãe. Todo filho é concebido, vive no ventre materno seu desenvolvimento, e, no momento certo, é dado à luz. A mãe o acompanha em toda a sua trajetória, com a mais amorosa expectativa. Com Maria foi diferente. Escolhida por seu Filho, ela viveu, o momento do SIM, um encontro com ÊLE.
A visita a Isabel
Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. (Lc 1, 39)
É fácil imaginar os sentimentos de gratidão que povoam a alma de Maria, diante da bondade de Deus! Como Ação de Graças pela sua Primeira Comunhão, quis praticar uma obra de misericórdia à prima.
Maria, verdadeira expressão de bondade, decide, então, visitar Isabel. E pode-se imaginá-la ajuntando-se a alguma caravana de peregrinos que vão à Jerusalém, passando por Samaria para atingir AIN KARIN, cidade de Judá, onde vive a família de Zacarias.
Primeira Procissão de Corpus Christi
Ela transita piedosamente com o filho no ventre. É portadora do Senhor e do seu Espírito à casa de Isabel. Primeira vez que o Verbo feito carne passeia pelos caminhos do mundo, oculto num Sacrário Vivo. Primeira Procissão de Corpus Christi!
Tudo é igual, menos o passo, pois, nos dizeres de Lucas, a Virgem ia apressadamente sem a solenidade litúrgica do passo da procissão mas, segundo Iglésias, com a presteza que lhe infundira a urgência do amor. É preciso fazer o bem. E bem depressa.
“Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo.
[…]
E, feliz e honrada, exclama: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação ressoou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre.” (Lc 1, 40-44)
Da Comunicação entre Nascituros
Lucas não registrou as palavras com que Maria saudou a prima, mas apresenta, em narrativa de elevada beleza evangélica, a primeira comunicação de que se tem registro na história da humanidade, entre dois Nascituros de mães diversas: João, filho de Isabel. E Jesus, filho de Maria. (Lc 1, 41-44)
E ressalta que Isabel proclamando a maternidade física de Maria, valoriza e eleva essa maternidade, ao reconhecer que o filho de Maria é seu Senhor. É o Primeiro Texto de Aclamação a Maria, como mãe do Senhor. (Lc 1,44)
Ao canto de Isabel, Maria responde com o Magnificat, o mais longo texto bíblico por ela pronunciado, dirigido não à prima Isabel, mas a Deus: oração em forma de hino e cântico. Portanto, no Magnificat rezamos como e com Nossa Senhora, em
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*Membro do Comitê de Bioética da Arquidiocese de Belo Horizonte – Minas Gerais
*Membro do Tribunal Eclesiástico da Arquidiocese de Belo Horizonte – Minas Gerais
*Professora Aposentada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Agradecimento e em louvor a Deus pelas maravilhas em favor dos mais humildes. E louvamos a Deus por ter escolhido Maria para mãe do Salvador.
S.M. Iglesias escreveu em O Evangelho de Maria:
…quase sempre, por trás do Evangelho de Jesus encontra-se Maria!
De Maria nunquam satis