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Por que a Igreja é contra a pesquisa com células-tronco retiradas de embriões humanos?

Prof. Pe. Otávio Juliano de Almeida – Integrante do Conselho Arquidiocesano Pró-Vida

Em princípio devemos dizer que a bioética planta seus fundamentos numa base laica: ela não tem limites confessionais, ultrapassa a todas as religiões e delas não depende para sustentar-se. Ela tem base na Filosofia que é justamente a sustentação de qualquer discurso.

Em seguida devemos afirmar que a Igreja, anunciadora da mensagem do Cristo – o homem de Nazaré – quer dialogar sempre coma humanidade. Ela se sente impelida, constantemente, porque obedece ao mandato do seu Fundador. “Ide, anunciai a Boa Nova a toda Criatura”. (Mc 16,15).

Desta maneira, o cristão nasce inserido no mundo. “Não vos peço que os tire do mundo” (Jo 17,15).

O seguidor de Jesus precisa evangelizar o mundo. Não somos anjos. Muito menos somos et’s. A partir desta perspectiva precisamos dizer a todos que quando a Igreja defende posições éticas e morais determinadas, não se baseia simplesmente na fé sobrenatural, ou na Revelação divina vinda da Bíblia e da Tradição. A Igreja argumenta a partir de um substrato comum de HUMANISMO, gerado desde a matriz grega, quando Sócrates – pai da filosofia helênica – colocou o homem no centro do pensamento ocidental. Afinal de contas, em qual religião revelada tem num homem de carne e osso a própria encarnação do Deus invisível e onipotente?

Esta religião é o Cristianismo. Numa época em que somente vale a eficiência – único valor subsistente – empenhar-se pela dignidade do ser humano, de modo especial dos fracos, inocentes, dos improdutivos, dos esquecidos, torna-se ainda urgência para quem é de Cristo.

Aguda urgência! A maioria dos cientistas sérios afirma que a vida começa com a fecundação do óvulo com o espermatozóide. Temos indiscutivelmente nova vida. Ainda que não se desenvolva, não deixa de ser. Ainda que defeituosa, não deixa de ser. Porque nada será desta célula inicial, outra coisa que não seja um ser humano. Nenhuma mãe ainda deu à luz a um morango ou uma bela maça, certo? Na teologia cristã não existe alternativa entre Deus e o ser humano. Existe complementaridade e cumplicidade. Defender o homem é adorar ao Deus verdadeiro (Deus da Vida!) e adorar a Deus se faz exaltando o humano como amplitude da Criação. Não existe diferença. Existe tão somente uma relação de amizade. Deus vem ao encontro da criatura na pessoa do Filho

Único, nascido do útero de uma mulher judia, numa data determinada em uma cultura especifica. Encontro perfeito. Aliança refeita. Amizade selada. Doação sem medida.

O ser humano é imagem e semelhança de Deus (Gn 1,26). Não podemos, portanto INSTRUMENTALIZAR este homem. Significa escravizar. Significa tornar meu semelhante – imagem do Criador – um objeto a meu dispor. Possível é a pergunta: só porque o embrião ainda não pode dizer um sonoro ‘não’? A dignidade do ser humano se baseia na sua condição racional (Kant). O Cristianismo se apóia neste conceito porque a dignidade se torna vocação e realização na historia do ser humano. A condição histórica é a base da dignidade do ser humano. Hoje, nossa historia se encontra no entrave ou na encruzilhada de perceber que podemos manipular outros seres humanos. Isto deve nos questionar e fazer-nos rever nosso conceito do que seja verdadeiramente a humanidade.

O humano do homem está em jogo.

Negociar e transigir significa empobrecer sua dignidade, fundamentada e assentada justamente depois de centenas e centenas de anos de quedas, martírios, sofrimentos, descobertas, luzes e sombras. MANIPULAR O EMBRIÃO É REJEITAR E DESONRAR A HISTÓRIA. MANIPULAR O EMBRIÃO HOJE É PASSAR POR CIMA DE TANTOS HOMENS E MULHERES QUE SOFRERAM PARA CONSTRUIR NOSSO HOJE QUE ERA O FUTURO DE CADA UM DELES. Isto, certamente é absolutamente imoral. Enfim, a vida – na Natureza, mas também no ser humano – oferece uma excelente metáfora para compreender QUEM É DEUS. Todas as religiões relacionaram a defesa da vida com a vontade de seu deus. Adorar a Deus é exaltar a beleza e a inconfundível arte de viver! Saborear seus aromas no contato com o outro, mesmo quando o sabor da tolerância parece amargo ou meio ácido… Para que a dignidade do ser humano, sejamos príncipes ou plebeus, não seja desonrada nem ontem, nem hoje e nem nunca! *Integrante do Conselho Arquidiocesano Pró-Vida, Mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Universidade Lateranense Vaticano),especialista em Ensino Religioso e Teologia Pastoral, professor de Moral na PUC Minas.

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